Mais
um ano que coacervaste . Apesar de já não estares presente entre nós, não
deixa de ser o teu dia, não deixa de passar os anos e não serás esquecido.
Tenho
poucas recordações tuas, mas ao mesmo tempo são muitas! Lembro-me quando era
pequenina e ansiava a tua chegada para me dares aquele ovo kinder que eu tanto
gostava de comer no fim do almoço. A recordação que eu tenho mais intensa tua,
é apenas uma, e acredita, é aquela que mais me dói relembrar. Tinha oito anos
apenas quando tu fizeste com que começasse a crescer mais rápido do que era o
habitual. A tua vida ficou suspensa dois anos naquela cama. Não falavas, tinhas
sondas para comer e urinar. Sabes o medo que eu tinha de chegar perto de ti,
inocência de criança, assim o entendias. Aos poucos fui superando o meu medo e
cada dia que passava mais perto de ti ficava.
Quando vinha da escolinha, lá
estavas tu, sentado naquele sofá, ao pé da janela. Não falavas, mas os teus
olhos diziam tudo quando me vias. Era doloroso, fazeres aqueles sons com a
boca, ao esforçares-te, para poderes falar comigo. Assim se passaram aqueles
dois anos amargurados da tua vida! Ajudava a minha mãe no que podia. Fazia sempre
questão de ser eu a dar-te o comer pela sonda, pois não podia fazer muito mais,
era uma miúda de oito anos. Como é possível, eu tão pequena, sem saber o que
era a vida, e tu seres uma grande preocupação minha? Lembro-me como se fosse
hoje, a tua última semana de vida! Quando o enfermeiro te foi ver pelas últimas
vezes, e ele sim, sabia que estavas de partida. Nunca quis dizer a verdade á
minha mãe, pois ela já andava a sofrer bastante com o teu estado, eram dias sobre
dias naquela angústia! Os teus dedos dos pés já estavam a querer cair e aquela
espuma branca que largavas pela boca constantemente, já faziam com que a ela desconfiasse que alguma coisa não estava bem. E assim foi, em Maio, naquela
madrugada de sábado quando tudo aconteceu. A minha mãe acordou sobressaltada. Foi ter contigo ao quarto. Lá estavas tu a largar aquela
espuma novamente, até que ela te agarrou sobre os braços dela, abanou-te e
chamou por ti. E assim foi que te despediste: olhaste nos olhos dela, encostaste a tua cabeça sobre o peito dela e deste o teu último suspiro.
Serás sempre relembrado, Parabéns avô <3
Olgaloureiro